FreeBSD, NetBSD e OpenBSD: o que são e características

Introdução

Quando pensamos em projetos baseados no Unix, distribuições Linux costumam vir à mente de imediato. Mas elas não são as únicas. Sistemas operacionais BSD, com destaque para o FreeBSD, o NetBSD e o OpenBSD, existem há décadas e são usados até hoje em servidores, aplicações acadêmicas e computadores pessoais.

Nas próximas linhas, você descobrirá o que, exatamente, são esses sistemas operacionais, bem como conhecerá as principais caracterísicas de cada um.

Vamos começar pelo... começo: a definição de BSD. Assim, fica mais fácil entender os demais projetos. Se preferir, acesse diretamente um dos tópicos a seguir:

- O que é um sistema BSD?
- A licença de uso do BSD
- O que é FreeBSD?
- E o NetBSD?
- Por fim, o OpenBSD

O que é um sistema BSD?

BSD é a sigla para Berkeley Software Distribution. Esse é o nome de um sistema operacional que tem como base o código-fonte do Unix. A denominação aponta para o local de origem do projeto: a Universidade da Califórnia, em Berkeley (Estados Unidos). Por essa razão, o sistema foi chamado de Berkely Unix na fase inicial.

Falando em início, o projeto teve origem nos anos 1970. Naquela época, a Bell Labs, então uma divisão de pesquisa da AT&T, atuou ativamente no desenvolvimento do Unix e distribuiu o código-fonte do projeto para algumas instituições. Entre elas estava justamente a Universidade da Califórnia, que teve acesso ao sistema operacional em 1974.

No ano seguinte, Ken Thompson, um dos criadores do Unix (e da linguagem de programação C), esteve na Universidade da Califórnia como professor visitante e ajudou a instituição a implementar a versão 6 do Unix.

Isso contribuiu para que o projeto do BSD fosse aperfeiçoado nos anos seguintes, a ponto de, em 1978, a primeira versão do sistema ter sido anunciada oficialmente. Na ocasião, o projeto recebeu o nome 1BSD.

Em 1979, a segunda versão, chamada 2BSD, foi lançada com aprimoramentos e recursos novos, incluindo o icônico editor de texto vi.

Logotipos do FreeBSD, NetBSD e OpenBSD
Logotipos do FreeBSD, NetBSD e OpenBSD

Não dava para dizer que o projeto fazia grande sucesso, até porque a AT&T estava há cerca de dois anos comercializando versões do Unix que eram mais atraentes para as organizações da época. Apesar disso, o BSD conquistou adeptos no decorrer dos anos.

O projeto foi mantido até 1995, quando a última versão, chamada de 4.4BSD-Lite2, foi lançada oficialmente. Uma das características mais notáveis dessa versão (e das imediatamente anteriores) era a total ausência de código-fonte do Unix da AT&T, que era fechado e, portanto, só podia ser usado seguindo as condições de licenciamento da empresa.

Em tempo, Unix é um sistema operacional que surgiu na década de 1960 e se caracteriza por ser portável, multitarefa e multiusuário. Além do BSD, o Unix é referência para vários outros projetos, incluindo as distribuições Linux.

A licença de uso do BSD

Todo software tem uma licença (ou deveria ter) que determina as condições para o seu uso e distribuição. Softwares proprietários, a exemplo dos sistemas operacionais Windows, podem ser usados mediante o pagamento de um valor — quando você compra um notebook com essa plataforma, o valor da licença costuma ser incluído no preço final do produto.

O BSD, por sua vez, não é um produto comercial, embora possa ser usado como tal. O projeto segue um tipo de licença que permite uso gratuito, cópias irrestritas, modificação do código-fonte e redistribuição deste.

De modo geral, uma licença BSD é muito parecida com a licença GPL (GNU General Public License), que é bastante aplicada em projetos de código aberto. A principal diferença está no fato de a GPL ser copyleft, ou seja, exigir que softwares derivados sejam distribuídos sem restrição de liberdade. Já uma licença BSD permite que o projeto seja incluído em software proprietário (com código-fonte fechado).

A licença passou por algumas revisões. Uma delas, eliminada em 1999, exigia a inclusão de uma citação no código-fonte de que aquele projeto incluía software desenvolvido pela Universidade da Califórnia. Extenso que era, essa nota causava transtornos para os desenvolvedores.

Mas o que mais nos interessa saber é que a licença BSD abriu caminho para o surgimento de sistemas operacionais derivados. Os mais conhecidos atendem pelos menos FreeBSD, NetBSD e OpenBSD. Esses projetos seguem uma licença derivada da licença BSD. Chegou o momento de conhecermos cada um deles.

O que é FreeBSD?

Lançado em 1993, o FreeBSD é, provavelmente, o projeto derivado do BSD mais popular que existe. Com código-fonte aberto, o sistema operacional é focado em estabilidade, desempenho e versatilidade. Suas possibilidades de uso contemplam desde computadores pessoais a servidores avançados.

Um dos criadores do FreeBSD é o desenvolvedor Jordan Hubbard — o projeto o levou, anos mais tarde, a trabalhar na Apple e ajudar no aperfeiçoamento do macOS, o sistema operacional dos Macs.

Em entrevista à Wired, em 2013, Hubbard conta que começou a trabalhar com o BSD no início dos anos 1980, até se tornar um profissional especializado em Unix. Porém, no início dos anos 1990, ele se uniu aos colegas Nate Williams e Rodney Grimes para criar um sistema operacional capaz de funcionar em máquinas equipadas com processadores Intel. Na época, a variedade de versões do Unix atrapalhava esse objetivo.

Nascia, então, o FreeBSD. Além de funcionar com arquiteturas usadas pela Intel (x86 e x64), o sistema operacional é compatível com várias outras plataformas, como Arm, RISC-V e PowerPC.

Do ponto de vista funcional, o FreeBSD oferece uma série de ferramentas. Começa pelo uso do X Window como sistema gráfico. Nesse quesito, o FreeBSD também pode trabalhar com ambientes de desktop como KDE, Gnome e Xfce.

Depois vem as ferramentas. Os recursos oferecidos ou suportados pelo FreeBSD permitem o seu uso como servidor de impressão, e-mail, FTP, firewall e muito mais. Está aí a razão para o FreeBSD ser bastante usado em aplicações corporativas ou acadêmicas.

Desenvolvedores também podem ser atendidos pelo sistema operacional, dado o seu suporte a diversas linguagens de programação, incluindo as populares C, C++, Java e Python.

Mais informações e download no site oficial do FreeBSD.

FreeBSD com ambiente de desktop Gnome
FreeBSD com ambiente de desktop Gnome — imagem: FreeBSD

E o NetBSD?

O NetBSD é outro projeto que teve início em 1993, embora a primeira versão final (1.0) tenha sido liberada somente em outubro do ano seguinte.

O sistema operacional segue os princípios de ser gratuito e ter código-fonte aberto, além de ter como base o BSD, obviamente. Para ser exato, originalmente, o NetBSD teve como base o código do 4.4BSD Lite2 — relembrando, a última versão do BSD lançada pela Universidade da Califórnia.

O que motivou a criação do NetBSD foi a insatisfação da comunidade que trabalhava com Unix e BSD com outra versão deste último, o 386BSD (também uma referência para o projeto). Chris Demetriou, Theo de Raadt, Adam Glass e Charles Hannum uniram forças para criar um sistema operacional BSD mais versátil, mas fortemente apoiado pela própria comunidade.

Na época, havia uma grande preocupação em fazer o sistema ter código portável (capaz de ser transferido para plataformas diferentes). Sendo assim, não surpreende o fato de o NetBSD ser compatível com x86, Arm, PowerPC e outras arquiteturas.

Mas essa não é a única característica notável do sistema operacional. A comunidade que mantém o projeto destaca outros atributos, como estes:

  • Segurança e proteção de memória;
  • Suporte a virtualização;
  • Gerenciamento avançado de pacotes (via pkgsrc);
  • Compatibilidade com recursos de armazenamento de dados, incluindo o sistema de arquivos ZF e softwares para RAID.

A parte da segurança é assegurada, entre outros fatores, por níveis de controle que restringem o acesso a determinados recursos até por contas de superusuários (com poder de administrador). Firewall nativo, testes automatizados e verificação rigorosa do kernel (o núcleo do sistema operacional) também somam pontos para esse aspecto.

Tal como o FreeBSD, o fato de o NetBSD ser um projeto antigo não é sinônimo de software obsoleto. Na verdade, o sistema é atualizado regularmente, não só para ajustes e correções, mas também para acréscimo de novos recursos.

Para exemplificar, os desenvolvedores destacam que o NetBSD tem suporte a NVMe, UEFI e aceleração gráfica por hardware. Apesar disso, a comunidade pretende manter compatibilidade retroativa com computadores mais antigos pelo menos até 2038.

Embora o sistema seja muito encontrado em servidores e computadores acadêmicos, há quem use o NetBSD em desktops e notebooks.

Mais informações e download no site oficial do NetBSD.

NetBSD com pkgsrc
NetBSD com pkgsrc — imagem: w3soft.org

Por fim, o OpenBSD

Completando o trio, temos o OpenBSD. Esse é um projeto que também surgiu na década de 1990, mas um pouco mais tarde que os outros dois. A razão para isso está no fato de um dos criadores do NetBSD, Theo de Raadt, ter tido conflito com os demais membros deste último e saído do projeto.

Raadt abandonou o NetBSD no final de 1994. Em outubro de 1995, ele criou o projeto OpenBSD. A primeira versão do sistema operacional foi lançada em julho de 1996. Desde então, atualizações vêm sendo liberadas regularmente.

O código original do OpenBSD é baseado no 4.4BSD. Aspectos como portabilidade, segurança e funcionalidade — o sistema conta com numerosas ferramentas — também são levados a sério aqui.

Por causa desses e de outros atributos, o OpenBSD é muito empregado em servidores para serviços online: e-mail, FTP, DNS e vários outros. Também é fácil encontrar o sistema operacional servindo de base para soluções de redes, como VPNs e firewalls.

Mas, sim, também é perfeitamente possível instalar o OpenBSD em PCs, até porque o sistema operacional conta com o Xenocara, uma implementação do já mencionado sistema gráfico X Window.

Sem nenhuma surpresa, o projeto oferece compatibilidade com várias plataformas, como x86, PowerPC, Arm e RISC-V.

Um detalhe curioso e muito interessante do projeto é a criação, em 2007, da organização sem fins lucrativos OpenBSD Foundation. Ela existe para dar apoio técnico e legal não só ao OpenBSD, mas a vários outros projetos de código aberto.

Alguns deles são muito conhecidos, como o OpenSSH (ferramenta para conectividade via protocolo SSH) e o OpenNTPD (para sincronização de relógio de servidores NTP).

Para mais informações e download do sistema operacional, acesse o site do OpenBSD.

OpenBSD rodando o aplicativo Scribus
OpenBSD rodando o aplicativo Scribus — imagem: OpenBSD

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Como se vê, o universo dos sistemas operacionais BSD não é tão diversificado quando o das distribuições Linux, por exemplo, mas é tão ou mais fascinante quanto.

Publicado em 17_09_2022.

Emerson Alecrim Autor: Emerson Alecrim
Graduado em ciência da computação, tem experiência profissional em TI e produz conteúdo sobre tecnologia desde 2001. É especializado em temas como hardware, sistema operacionais, dispositivos móveis, internet e negócios.
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