Traffic shaping: sobrou até para o YouTube?
Dias atrás, reclamei no Twitter da lentidão do YouTube:
Instantes depois, um amigo meu respondeu: “vc quis dizer: operadoras de banda larga que negam velocidade pro YouTube e te fazem sentir nos tempos de conexão discada”. Daí é que eu percebi que nunca havia parado para pensar nisso.
Pelo menos aparentemente, operadoras de várias partes do mundo, inclusive do Brasil, realizam traffic shapping, ou seja, diminuem a largura de banda de determinadas aplicações, como serviços de VoIP ou downloads via BitTorrent, por causa do grande volume de dados envolvidos nessas atividades. O YouTube é o site de vídeos on-line mais utilizado do mundo, portanto, gera um tráfego imenso. Assim, nada mais natural do que desconfiar que a lentidão que muitas vezes observamos no carregamento dos vídeos muitas vezes é culpa das operadoras, não apenas dos servidores do Google.
Prova recente disso vem da França: internautas deste país acusam operadoras como Orange e SFR de prejudicar o carregamento dos vídeos do YouTube. No caso deles, não raramente, esse processo leva de cinco a quinze minutos, tempo aceitável para quem possui conexões lentas, mas não para quem tem banda larga.
As operadoras se defendem. Dizem que o problema está nos servidores do YouTube, coisa e tal, mas é difícil de acreditar, afinal, muitas dessas companhias são a favor de uma cobrança adicional pelo tráfego gerado por serviços on-line de grande utilização, o que aumentaria consideravelmente os custos operacionais de empresas como Google, Yahoo! e Facebook. E, não duvido: de uma forma ou de outra, esses custos seriam repassados para nós, que já pagamos para ter acesso à internet.
Perceba que essa questão vai muito além dos gastos. Oras, se atualmente as operadoras aparentemente realizam traffic shapping às escondidas, fazendo com que você não possa aproveitar todo o potencial de sua conexão de, sei lá, 2, 10, 15, 100 Mbps, imagine o que acontecerá se elas tiverem autorização legal para isso.
Exagero? Tempestade em copo d’água? Como eu disse neste post, o que seriam das empresas que se negassem a pagar pelo tráfego? Teriam uma cota diária de dados? Ou o acesso aos seus serviços seria limitado e consequentemente lento, mesmo que você esteja pagando (caro) por uma conexão rápida?
As operadoras reclamam que os serviços on-line demandam cada vez mais tráfego e em nada contribuem para o aumento da infraestrutura de telecomunicação. Mas é uma postura contraditória: se eu tenho uma conexão rápida e tenho a opção de ver um vídeo em alta definição no YouTube, por que deixaria de fazê-lo?
Há ainda outra questão: as operadoras não levam em consideração que companhias como Google e Facebook também gastam fortunas para melhorar seus serviços. Seria o caso então de cobrar das operadoras para que os clientes destas possam ter acesso a esses recursos?
O pior de tudo é que esta novela está longe de ter um fim. Por isso, vá fazer um lanche ou passear com o seu cachorro. Tenha fé de que o vídeo no YouTube que você quer ver já estará carregado na volta 😉
Referência: ELPAÍS.com.
Emerson Alecrim
Autor: Emerson Alecrim
Graduado em ciência da computação, tem experiência profissional em TI e produz conteúdo sobre tecnologia desde 2001.
É especializado em temas como hardware, sistema operacionais, dispositivos móveis, internet e negócios.
Principais redes sociais:
• X/Twitter
• LinkedIn