Microsoft Research: tecnologia contra SPAM no combate à AIDS

Ontem, eu tive a oportunidade de participar de um dos encontros científicos mais incríveis que já presenciei: o Latin American Faculty Summit 2010. Promovido pela Microsoft Research e pela FAPESP, o evento acontece até amanhã (14/05/2010) no Sofitel Jequitimar, no Guarujá, São Paulo, e reúne cientistas, membros do governo e acadêmicos em geral para tratar de… Ciências! Uma das apresentações mais interessantes que vi foi a palestra ministrada pelo doutor David Heckerman, diretor sênior do Grupo de Ciência da Microsoft Research. Ele mostrou como uma tecnologia de combate ao SPAM pode ajudar no desenvolvimento de uma vacina contra o vírus HIV, causador da AIDS.

David Heckerman no Latin American Faculty Summit 2010
David Heckerman no Latin American Faculty Summit 2010

Atualmente, muitos portadores da doença têm uma expectativa de vida muito boa graças aos avanços nos tratamentos. No entanto, a AIDS ainda é uma doença que mata centenas de milhares de pessoas em todo o mundo. Por isso, as pesquisas contra o vírus HIV não param e é aí que o trabalho de David Heckerman entra em cena.

O doutor Heckerman é responsável por várias tecnologias dentro da Microsoft, como recursos de exploração de dados no SQL Server, reconhecimento de manuscritos em tablets PC, filtros contra SPAMs, entre outros. Só que seus estudos também envolvem “biologia computacional” e, talvez por isso, Heckerman conseguiu encontrar uma analogia interessante: as técnicas usadas por spammers para escapar dos filtros têm grandes semelhanças com a atuação do vírus HIV.

Explicando de maneira bastante simplificada, filtros contra SPAM funcionam, basicamente, “capturando” mensagens que tenham determinadas palavras. Assim, um jeito encontrado pelos spammers para burlar esses filtros é alterar caracteres de determinados termos de forma que, mesmo com isso, a compreensão humana não seja afetada. Por exemplo: você consegue entender que “V1AGRA” significa “VIAGRA”, mas filtros simples não, de forma que mensagens que contém o primeiro termo acabam sendo liberadas. Com base nesse problema, David Heckerman, junto com sua equipe, desenvolveu uma tecnologia capaz de lidar com a criação de variações de palavras, o que resultou em filtros contra SPAM muito mais eficientes.

Mas, qual a relação disso com a AIDS? O vírus HIV consegue sobreviver porque, ao contaminar células, não utiliza cópias exatas suas, mas sim réplicas com pequenas alterações, tal como os spammers fazem com palavras. Essa série de pequenas e distintas mudanças dificulta ao extremo o desenvolvimento de uma vacina, pois os anticorpos acabam não conseguindo “enxergar” as variações.

Tecnologia contra SPAM no combate à AIDS
Tecnologia contra SPAM no combate à AIDS

Ao se dar conta dessa “coincidência”, Heckerman percebeu que o algoritmo que criou para calcular chances de mudanças em palavras pode ser aplicado também  para calcular cada possível modificação do vírus HIV em sua disseminação no organismo de um indivíduo. Isso poderá ajudar no desenvolvimento de uma vacina cuja ação resulta na ativação de anticorpos capazes de combater não só determinados vírus, mas também suas mutações, pois estas serão previstas.

Tomara que dê certo, né? É possível saber um pouquinho mais sobre o assunto neste vídeo (em inglês).

Emerson Alecrim

Emerson Alecrim Autor: Emerson Alecrim
Graduado em ciência da computação, tem experiência profissional em TI e produz conteúdo sobre tecnologia desde 2001. É especializado em temas como hardware, sistema operacionais, dispositivos móveis, internet e negócios.
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