Microsoft, open source e interoperabilidade
É difícil associar a Microsoft a iniciativas open source sem pensar em conflitos. Não é por menos: a empresa construiu seu império apoiada em uma agressiva estratégia de distribuição de software proprietário e, ao longo do tempo, muitas de suas ações foram vistas como tentativas para desestabilizar projetos de código aberto. O fato é que, entre anjos e demônios, o mercado funciona considerando ambos os lados, fazendo da coexistência uma necessidade.
Nesta semana, James Utzschneider, gerente geral de Open Source da Microsoft, esteve no Brasil para falar um pouco sobre código aberto e interoperabilidade. No intuito de entender melhor como a empresa lida com esse universo, participei de um evento com o executo e com Djalma Andrade, gerente de estratégias de plataforma da Microsoft Brasil.
Ficou claro, logo no início, que a Microsoft está direcionando seus esforços no sentido da interoperabilidade, isto é, em permitir que suas soluções se comuniquem com outras plataformas e vice-versa. De maneira complementar a isso, a companhia colabora com vários projetos open source.
Em relação ao primeiro aspecto, a principal aposta da Microsoft é a computação nas nuvens. Utzschneider chegou a dizer que “migrar para a nuvem é o futuro da companhia”. Atualmente, a principal solução da empresa para este segmento é a Windows Azure. Não se trata meramente de uma nova versão do sistema operacional da companhia, mas sim de uma plataforma que permite a execução de aplicações on-line, inclusive aquelas baseadas em recursos open source, como PHP ou Python. De acordo com Utzschneider, os trabalhos para que a integração entre esses dois “mundos” seja cada vez maior são constantes.
No que se refere aos projetos open source, atualmente a Microsoft colabora com iniciativas como Drupal, Joomla e Moodle. Além disso, oferece ferramentas gratuitas que permitem o desenvolvimento e a utilização de recursos open source, como WebMatrix e Microsoft Web Platform Installer.
É visível que a maior parte desses esforços tem o objetivo de permitir a integração das soluções da Microsoft com projetos de código aberto. Mas ao contrário do que possa parecer, esse comportamento é interessante às iniciativas open source, pois evidencia o reconhecimento de sua importância.
A Microsoft já percebeu que muitos de seus clientes – e potenciais clientes – utilizam soluções de código aberto e que, portanto, terá mais vantagem em “conviver” com essas iniciativas do que “sair no tapa” com elas, mesmo porque a palavra-chave de toda essa história, interoperabilidade, é o que o mercado precisa, de fato. Isso não quer dizer que não existe mais disputa por usuários ou mesmo divergências entre ambas as partes, mas sim que essa não é uma “guerra épica”, pelo menos não mais.
No encontro, pude perceber que a Microsoft está conduzindo essa questão com bastante maturidade. A empresa colabora com que o vai de encontro com seus interesses, é verdade, mas mais do que nunca reconhece o open source como parte, não como exceção.
E tem que ser assim mesmo, pois radicalismo não condiz com a realidade. Uma coisa é ter, por exemplo, o Microsoft Office disputando mercado com o LibreOffice. Outra é querer aniquilar o open source ou, pelo outro lado, o software proprietário. Na remota possibilidade de qualquer dessas coisas acontecer, o que ficará em jogo será liberdade de escolha dos usuários, sejam eles pessoas ou organizações. Isso sim é prejudicial.
Para quem se interessar, no Brasil, a Microsoft disponibiliza informações sobre sua relação com open source no blog Porta 25, que a propósito, agora roda em WordPress (código aberto) e Azure.
Emerson Alecrim
Autor: Emerson Alecrim
Graduado em ciência da computação, tem experiência profissional em TI e produz conteúdo sobre tecnologia desde 2001.
É especializado em temas como hardware, sistema operacionais, dispositivos móveis, internet e negócios.
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