Gradiente “iphone”: com Android e dual SIM, mas sem bom senso

Depois de quase falir, a Gradiente voltou ao mercado em meados deste ano (2012), quando a IGB Eletrônica passou a representá-la efetivamente por meio da Companhia Brasileira de Tecnologia Digital (CBTD). Não foi um retorno triunfal, é verdade, mas com muito esforço, talvez fosse possível fazer com que a marca reconquistasse o prestígio que obteve em um passado não muito distante. No entanto, ao lançar uma linha de smartphones com o nome G Gradiente iphone, a empresa dá a impressão de não ser importar muito em ser uma marca “secundária”.

Não, você não leu errado: nesta terça-feira (18/12/2012), a Gradiente começou a comercializar seu próprio “iphone”. O argumento é o de que a IGB Eletrônica detém direitos exclusivos de uso da referida marca no Brasil desde 2008. Considerando apenas este ponto de vista, a Gradiente pode utilizar o nome “iphone” no país, mas a Apple não.

Neo One GC 500 SF, da linha G Gradiente iphoneCom base nisso, a IGB Eletrônica lançou o Neo One GC 500 SF (imagem ao lado), o primeiro smartphone da linha G Gradiente iphone. Trata-se de um aparelho com tela de 3,7 polegadas e resolução de 320 x 480 pixels, processador de 700 MHz (modelo não informado), sistema operacional Android 2.3.4, câmera traseira de 5 megapixels, câmera frontal de 0,3 megapixel, suporte a dois cartões SIM, 3G, Wi-Fi e Bluetooth. Como se vê, trata-se de um produto de baixo a médio custo.

O problema é que há alguns detalhes obscuros nesta história toda. Para começar, o site do INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) mostra que a IGB Eletrônica possui registro da marca “G Gradiente iphone” e não do nome “iphone”. Não por acaso, é justamente a primeira denominação que a Gradiente utiliza em seu site para descrever a linha do produto.

Além disso, é possível perceber que a Apple tentou proteger a marca “iPhone” no Brasil: há várias solicitações de registros do nome junto ao INPI, mas algumas delas ainda estão em processo de avaliação. Um pedido que se encontra nesta situação é justamente o que relaciona o nome em questão ao segmento de dispositivos eletrônicos móveis, incluindo aí os telefones celulares.

Somente uma análise criteriosa poderá determinar quem tem razão nesta história toda. De qualquer forma, a decisão da Gradiente me pareceu bastante infeliz, mesmo que ela tenha, de fato, direitos sobre a marca. O nome “iPhone” faz referência a uma linha de smartphones que mudou os rumos do segmento móvel de maneira histórica. Logo, não há como não olhar com desconfiança para uma empresa que se apodera da denominação sem ter contribuído para a construção de seu ecossistema – não é porque a lei permite que todo mundo vai dizer “ah, então tudo bem”.

A impressão que se tem é a de que a Gradiente está tentando utilizar o nome para atrair aqueles consumidores que têm pouca intimidade com a tecnologia, mas que de uma forma ou outra já ouviram falar de “iPhone”. Para estas pessoas – e elas não são poucas –, a denominação pode ser interpretada como um telefone celular mais avançado e não como uma linha de dispositivos bem definitiva. Ou então a empresa simplesmente previu o burburinho que a história iria gerar e decidiu seguir a filosofia do “fale bem, fale mal, mas fale de mim”.

Como se não bastasse, em um post divulgado em sua página oficial no Facebook, a Gradiente informa o seguinte:

No ano 2000, a Gradiente já olhava para o futuro e criou uma marca para sua linha de celulares com acesso à Internet, surgia a linha Gradiente iphone, do qual hoje faz parte nosso Smartphone Neo One.

Com uma ideia tão legal, a marca logo foi registrada. Como todo mundo sabe, o nome pegou pelo mundo, aqui no Brasil a criatividade e inovação veio da Gradiente. (…)

Criatividade e inovação onde? Em um aparelho com Android 2.3 e processador de 700 MHz? Não há problema algum em fazer um aparelho de baixo custo, mas associá-lo, mesmo que indiretamente, ao nome de um produto de alto padrão me parece ser uma maneira gritante de subestimar o consumidor. E de queimar o próprio filme.

A Apple até agora não se manifestou sobre o assunto, mas muito provavelmente irá tomar alguma providência. A IGB Eletrônica certamente sabe disso. Mas, se a empresa está tão disposta assim a encarar a gigante criada por Steve Jobs, por que não entrou na Justiça para fazer a Apple parar de utilizar o nome iPhone no Brasil (se o fez, não divulgou)? Ou por que simplesmente não tentou um acordo? Pois é, aguardemos pelos próximos capítulos.

Referência: Estadão.

Emerson Alecrim

Emerson Alecrim Autor: Emerson Alecrim
Graduado em ciência da computação, tem experiência profissional em TI e produz conteúdo sobre tecnologia desde 2001. É especializado em temas como hardware, sistema operacionais, dispositivos móveis, internet e negócios.
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