Blogosfera brasileira em debate… nos blogs!

Nos últimos dias muitos blogs brasileiros abordaram sua situação, isto é, a situação da “blogosfera brasileira“. Dos pontos levantados em todos os posts que li, os que mais se destacaram, na minha opinião, foram:

– Qualidade dos blogs;
– Falta de comentários (relevantes);
– Comentários não respondidos;
– Falta de comunicação entre os blogs;
– Falta de leitores (o Brasil é um país que não gostar de ler);
– Desconhecimento de termos como Technorati, trackback, etc.

A discussão é tão grande que não pude me manter alheio, mesmo considerando que trato o InfoWester e o Blog InfoWester como uma coisa só. Mas é importante refletir sobre as questões levantadas, até porque trata-se de algo que é interessante não só a blogueiros, mas também aos leitores, o que em muito sou. Então, segue minha opinião sobre os pontos que destaquei:

Qualidade dos blogs: ao meu ver, existem dois tipos de blogs: os especializados e os diários, sendo que cada uma das categorias tem suas sub-divisões. Nos especializados estão blogs que se focalizam em uma determinada área, como medicina, padrões da Web, esportes, jornalismo, etc. Nos diários estão os blogs de pessoas que relatam o seu dia-a-dia.

Não vejo nenhum dos tipos com preconceito, já que participo dos dois com o Blog InfoWester (este em que vos escrevo) e com o Ponto de Vista, meu blog pessoal. A questão da qualidade entra em cena quando se analisa o quão relevante é o conteúdo do blog, independente do seu tipo. Os blogs especialistas costumam ser mais interessantes porque atraem a atenção de pessoas ligadas à área tratada e seus donos costumam tratar os assuntos relacionados com conteúdo inédito ou com orientações importantes.

Por sua vez, os blogs diários precisam atrair a atenção pela habilidade do blogueiro em tratar dos assuntos abordados. Por exemplo, leio com freqüência o blog de um estudante de medicina, pela forma ímpar em que ele relata sua rotina, inclusive na faculdade.

A questão é que muitos ainda vêm os blogs como uma frescura de adolescente, como uma simples evolução dos antigos diários pessoais e não enxergam que os blogs são a manifestação clara do direito (e dever) de ouvir e ser ouvido. Não há maneira melhor das pessoas mostrarem o que viram ou têm de importante e relacionar indivíduos ou grupos com interesses semelhantes.

A qualidade de um blog pode ser então determinada por quão interessante são os assuntos abordados, pela forma com a qual o blogueiro escreve e por características que são importantes às pessoas também em outras situações, como criatividade, conhecimento, inovação, bom senso, ética, entre outros.

Falta de comentários (relevantes): não sei dizer o que faz as pessoas comentarem em um post, mas sei que existem diversos tipos de leitores e isso pode influenciar nessa questão. No InfoWester já identifiquei o “leitor platéia”, que simplesmente gosta de ler as novidades de um site ou de um blog e começa a ficar preocupado quando a próxima atualização demora a ocorrer. Esse é um tipo de leitor que gosta de ficar quieto no seu canto ou que simplesmente acha que não tem nada de importante a dizer. Sinceramente, não acho isso um problema.

Há também o “leitor participativo”, que gosta de se envolver, que acha válido dar sua opinião e que, através disso, pode até criar um blog. Esse é o tipo que mais comenta, que lê com atenção e que não vê problema nenhum em posts longos.

Também já identifiquei o “leitor preguiçoso”, que chegou ao blog/site por acaso, talvez fazendo uma busca no Google, e faz uma pergunta não relacionada ao post pensando que este trata do assunto que ele procurava, sem ao menos ler o texto na íntegra. É o tipo que pede um convite para o Orkut quando o blog faz uma citação a esse serviço, por exemplo.

Felizmente, os primeiros dois tipos de leitores são os mais freqüentes, pelo menos aqui no InfoWester. Na verdade, não me preocupo com a quantidade de comentários, mas sim com a qualidade deles. Quando eles são bons, acaba-se tendo uma troca de experiências e acho que isso é o que interessa.

Comentários não respondidos: esse problema atinge mais o site InfoWester em geral do que o Blog InfoWester em si, tanto que já comentei sobre isso. O problema de responder os comentários é que:

– Muitas vezes o comentário não é relacionado ao post;
– A resposta está no próprio texto, o que indica que a pessoa não o leu;
– Muitas mensagens, pouco tempo para responder.

Esses probleminhas fazem com que seja necessário selecionar as perguntas mais relevantes e respondê-las. Além disso, muitas perguntas podem ser melhor respondidas em fóruns, locais ótimos para isso. É uma pena que nem sempre o leitor percebe isso. Mas, pelo menos no meu caso, tento atender a todos, todavia reconheço que é impossível.

Falta de comunicação entre os blogs: esse, na minha opinião, é problema mais complexo, pois podem haver várias divergências. A principal é sobre a falsa concorrência. De fato, muitos sites brasileiros se tratam como concorrentes. Não é regra, mas se vejo um site que quase não aponta para outros, desconfio seriamente disso.

Há também de se considerar que muita gente só linka sites e blogs que realmente são bons. Eu, por exemplo, faço isso. Não tem nada pior do que linkar um site/blog e ver que ele tem conteúdo copiado, que parou de ser atualizado, que tem português ruim, que só abre no Internet Explorer, que exibe pop-ups, entre outros.

Acho que não é necessário ter um link para cada blog interessante, mas apontar para um blog quando este trata de um assunto que tem a ver com um post que você vai publicar é muito válido. Não linkar por achar que o outro blog é concorrente é besteira. No máximo, o leitor pode descobrir mais um blog para ler, ao invés de largar o primeiro. Se você se preocupa em passar um conteúdo bom em seu blog, não há o que temer.

Falta de leitores: de maneira geral, o Brasil é um país que lê pouco e isso também se reflete na internet. Há muito mais usuários de fotologs no país do que blogueiros. Mesmo assim, os leitores existem. No momento em que escrevia esse texto, o InfoWester tinha média de 10 mil visitas únicas por dia e dessas, pelo menos 400 são do Blog InfoWester, o que considero um número muito bom. Meu blog pessoal tem média de 700 visitas por mês e também não tenho do que reclamar.

Acho que a melhor forma dos blogueiros lidarem com a falta de leitores é definir uma coisa: para quem estou escrevendo? Quem eu espero que visite esse blog?

Pensando nisso, o blogueiro tem chances maiores de entender o que é necessário para atingir o público alvo. Por exemplo, alguém que escreve sobre medicina certamente atrairá a atenção de estudantes e profissionais da área, e possivelmente de outras pessoas, já que assuntos médicos são uma preocupação geral. Por outro lado, quem escreve sobre Linux terá um público mais restrito, que realmente se interessa pelo assunto. Não dá para esperar que qualquer internauta visite esse tipo de blog, já que o assunto tratado é muito específico e não interessa a todas as pessoas. Dessa forma, o blogueiro precisa se comunicar com pessoas do meio e divulgar seu trabalho em lugares apropriados. No caso de um blog sobre Linux, pode-se tentar, por exemplo, divulgar um texto no site BR-Linux. Se alguém gostar, vai acabar voltando ao blog.

Uma coisa que também acontece é de um blog ser interessante a um leitor, mas este não o conhece. Aí novamente entra em cena o tópico sobre os blogueiros se ajudarem.

Desconhecimento de termos como Technorati, trackback, etc: ao visitar um blog bem feito, muita gente se depara com termos como Technorati, trackback, tags, posts, entre outros. Boa parte não sabe o que cada nome significa.

A maioria dos brasileiros não tem acesso à internet e muito dos que tem a utilizam pouco, se limitando a ver e-mails ou a usar um site de busca vez ou outra. Quando muito, possuem um blog do tipo diário e logo o abandonam quando a brincadeira perde o ar de novidade.

Logo, os blogs acabam sendo conhecidos por aqueles que utilizam a internet com mais freqüência, o que acaba fazendo com que um usuário novo no assunto fique perdido ao entrar em um blog incrementado. Não raramente, esse usuário se sente um peixe fora d’água, acha que aquele site é coisa demais para ele e, ainda, pode acreditar que não será bem-vindo ali.

Por essa razão, prefiro deixar meus blogs com o visual mais simples e suave possível. Nota-se isso no InfoWester, no Blog InfoWester (que tem um dos templates mais simples que eu já vi) e no meu blog pessoal, que tem um visual bem limpo.

Também acho interessante que alguns blogs, não todos, colocassem um pequeno glossário com os termos que utilizam no blog em algum canto do site. Dessa forma, o usuário terá mais chance de encontrar o significado de algum nome se pesquisar em sites de busca.

Em tempo, segue o significado de cada termo que citei neste tópico:

Technorati: um site especializado em blogs, capaz de listar e fazer buscas neles;
Trackback: é um recurso que faz com que um trecho de um post de um determinado blog apareça como comentário no texto de outro, quando este último é citado pelo primeiro (deu pra entender?);
Tags: são como apelidos para classificar os textos inseridos em um blog em categorias. Por exemplo, um texto que fala sobre trens pode receber as tags transportes, ferrovias, trilhos, etc. Ao clicar no link de qualquer dessas tags, o usuário encontrará o texto em questão;
Post: é simplesmente o nome para um texto inserido em um blog. Por isso, quando alguém acaba de publicar algo, é comum essa pessoa dizer frases como “acabei de postar no blog”.

Conclusão: a comunidade blogueira do Brasil, ou simplesmente “blogosfera brasileira” existe, tem conteúdo de qualidade, tem criatividade e só não são reconhecidos lá fora pelo idioma português, já que isso impede os blogs de serem lidos por quem não conhece a língua.

Na minha opinião, o fato dos blogueiros pararem para discutir o assunto mostra o quão são cheios de boa vontade. Sinceramente, não lembro de ter visto uma mobilização como a que vi em abril de 2006 e acredito que disso sairão bons frutos. Isso porque até os blogueiros mais experientes decidiram refletir sobre o assunto. Eu também, embora não me considere da classe dos experientes. Vou tentar me comunicar com outros blogs, linkar mais, ser mais colaborativo de maneira geral.

A questão é que os blogs podem ser transmissores de conhecimento e de cultura. Quanto mais importantes eles ficarem – e isso só ocorrerá com reconhecimento – melhores serão. Você pode estar se perguntando: o quê os blogs têm de tão especial? Acontece que os blogs são uma forma de expressão de seus donos e eles podem e usam esse canal para transmitir conhecimento, grande parte dele oriundo de experiência. Quando falo de conhecimento, não me refiro apenas ao meio profissional e acadêmico. Falo de forma generalizada, abrangendo aspectos culturais (música, lazer, viagens, etc), filosóficos, entre outros.

Se é assim, vida longa aos blogs! Leia-os mais, faça um também! Viva ao direito de ouvir e ser ouvido – neste caso, de ler e de ser lido ;-).

Referências para o assunto:

blogbits.com.br/arquivo/blogbits-podcast-…;
blog.fabioseixas.com.br/archives/2006/04/o_que_falta…l;
www.contraditorium.com/2006/04/09/tio-me-da-um-link-eu-…;
www.carreirasolo.org/archives/_os_tagueadores…;
brunotorres.net/2006/04/19/minha-terra-tem-blogueiros-que…;
blog.jonatasgardin.com/arquivos/2006/04/06/o-que-falta….

Emerson Alecrim

Emerson Alecrim Autor: Emerson Alecrim
Graduado em ciência da computação, tem experiência profissional em TI e produz conteúdo sobre tecnologia desde 2001. É especializado em temas como hardware, sistema operacionais, dispositivos móveis, internet e negócios.
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