O usuário root

Introdução

O Linux (na verdade, qualquer sistema operacional baseado em Unix) possui um tipo de usuário que tem acesso irrestrito aos arquivos e processos do sistema: trata-se do usuário root ou super usuário. Este artigo, voltado a iniciantes, mostrará qual a utilidade dessa conta e os cuidados que a cercam. Para isso, são abordados os seguintes assuntos: processos e arquivos, UID e GID, e comandos su e sudo.

Processos e arquivos

Para uma melhor compreensão sobre o usuário root, é necessário entender que cada arquivo e cada processo (programa em execução) do sistema tem um dono, ou seja, um proprietário que determina quem pode e como usar o arquivo/processo em questão. Obviamente, o proprietário tem acesso irrestrito aos seus "pertences", exceto quando ele mesmo bloqueia um arquivo/processo contra si (sim, isso é possível).

Se você é usuário de um sistema Linux, pode impedir os demais usuários de utilizar seus arquivos. Da mesma forma, há arquivos que podem ser bloqueados a você.

No caso de arquivos e processos ligados ao funcionamento do sistema, seu proprietário natural é o usuário root. Isso significa que só ele (e outros usuários que sejam definidos como "super usuários") é que pode alterá-los. O root também pode atuar sobre qualquer arquivo ou processo de outros usuários já que, no sistema, "ele é um deus".

Uma das formas de saber a quem pertence um determinado arquivo é digitando o seguinte comando em um terminal do sistema:

ls -l arquivo

Exemplo:

ls -l /iw/infowester.txt

Resultado: -rwx--- 1 wester eng 1880 Feb 3 12:01 /iw/infowester.txt

O resultado informa que o arquivo em questão pertence ao usuário wester e ao grupo eng.

Um arquivo ou um processo sempre tem um dono, mas é possível fazer com que um ou mais grupos de usuários tenha os mesmos privilégios sobre ele. Assim, no exemplo anterior, o usuário wester pode dar acesso irrestrito ao grupo eng para o arquivo infowester.txt.

UID e GID

O Linux gerencia os usuários e os grupos através de números conhecidos como UID (User ID) e GID (Group ID). Como é possível perceber, UID são números de usuários e GID são números de grupos. Os nomes dos usuários e dos grupos servem apenas para facilitar o uso humano do computador.

Um fato ainda não citado, é que cada usuário precisa pertencer a um ou mais grupos. Como cada arquivo ou processo pertence a um usuário, logo, esse arquivo/processo pertence ao grupo de seu proprietário. Assim sendo, cada arquivo/processo está associado a um UID e a um GID.

Os números UID e GID variam de 0 a 65536. Dependendo do sistema, o valor limite pode ser maior. No caso do usuário root, esses valores são sempre 0 (zero). Assim, para fazer com que um usuário tenha os mesmos privilégios que o root, é necessário que seu GID seja 0. Isso informa ao sistema que o usuário em questão é super usuário.

Observação: na verdade, existe um UID real e um UID efetivo. O mesmo ocorre com o GID. Os números reais geralmente são iguais aos efetivos. Os UIDs e GIDs reais são usados, basicamente, para fins de contabilidade, enquanto que os efetivos são os usados para execução.

O usuário root

Como não poderia deixar de ser, o Linux "vê" o usuário root como algo especial, já que ele (na verdade, qualquer usuário que tenha UID igual a 0) pode alterar a configuração do sistema, configurar interfaces de rede, manipular usuários e grupos, alterar a prioridades de processos, entre outros.

Por ser tão poderoso, o usuário root é perigoso. Por isso, ele só deve ser usado em situações que não podem ser trabalhadas por usuários que não possuem privilégios de super usuário. Imagine, por exemplo, que você está trabalhando com o usuário root. Ao atender uma solicitação de emergência, você saiu da frente do computador sem bloqueá-lo. Alguém mal-intencionado percebe isso e vai até seu computador, apaga diretórios importantes ao sistema e "sai de mansinho". Se você estivesse utilizando um usuário comum, isto é, um usuário sem permissões para mexer nesses diretórios, aquele sujeito não teria conseguido apagá-los. Ainda há a possibilidade de você cometer algum erro e pôr tudo a perder...

O usuário root é tão importante que até sua senha deve ser bem elaborada. É recomendável que ela tenha ao menos 8 caracteres e que misture letras e números. Além disso, é recomendável mudar essa senha a determinados intervalos de tempo (como a cada 3 meses) ou quando alguém que acessava a conta root não utilizará mais o computador (quando a pessoa sai da empresa, por exemplo). Você pode obter mais orientações sobre criação de senhas aqui.

Comando su

Você pode estar usando o sistema através de seu usuário, quando percebe que terá que fazer uma alteração de configuração permitida apenas ao root. Uma maneira rápida e segura de fazer isso é pelo comando su (substitute user).

Digite su no terminal e o sistema pedirá que você informe a senha root. Em seguida, você poderá fazer a modificação necessária. Ao concluir, basta digitar exit ou fechar o terminal e os privilégios de root estarão desabilitados novamente.

Observação: também é possível usar o comando su para acessar outra conta. Para isso, digite:

su usuário

Por exemplo:

su wester

Esse recurso é útil quando, por exemplo, é necessário testar uma configuração feita para um usuário ou para um grupo.

Ao fazer uso do su, seu usuário passa a ter poderes de usuário root naquele momento. No entanto, suas configurações de usuário são mantidas, ou seja, as configurações definidas para o usuário root não são carregadas. Para fazer que com o usuário atual adquira toda a configuração do usuário root, deve-se digitar o comando su seguido de -:

su -

Comando sudo

O comando sudo é um recurso mais poderoso que o su. Isso porque, nele, é possível definir quem pode utilizá-lo e quais comandos podem ser executados por esses usuários. Alem disso, o sudo pode ser configurado para exigir a senha novamente quando o usuário deixa de utilizar o sistema por um determinado tempo, por exemplo, por 10 minutos. A configuração do sudo geralmente é feita através do arquivo /etc/sudoers.

O uso do sudo é interessante porque o usuário não precisa saber a senha do root, apenas terá que ter permissão para usar determinados comandos pelo sudo. Além disso, o sudo permite registrar em um arquivo de log todas as atividades efetuadas, algo que é bem limitado no su.

Para mais informações sobre o sudo, visite o site www.courtesan.com.


Finalizando

O controle sobre o que os usuários podem ou não fazer é uma das características que tornam sistemas baseados em Unix mais seguros. Como foi possível notar, o usuário root (super usuário ou ainda, administrador) é o único que pode ter acesso ilimitado aos recursos do sistema. Como tal, seu uso deve ser feito apenas em situações que o exigem. Para tarefas cotidianas, deve-se utilizar um usuário comum. Para minimizar o uso do usuário root, pode-se utilizar os comandos su e sudo.

Para entender melhor como lidar com o root e os demais usuários, é recomendável estudar os seguintes assuntos: permissão de arquivos, gerenciamento de usuários e grupos, e controle de processos.

Escrito por - Publicado em 17_04_2005 - Atualizado em 17_04_2005