Google Reader e a bola de futebol do meu vizinho

A bola é minha!Certa vez, quando eu era criança, estava com alguns amigos jogando futebol em um campo perto de casa. O dono da bola, um garoto da vizinhança que vivia irritado, queria ser o árbitro. Mas, quando percebemos que ele estava exagerando em suas decisões, passamos a não obedecê-lo. Ele então colocou em prática a clássica ação de tomar a bola e só emprestá-la novamente se aceitássemos as suas condições. Ficamos discutindo o assunto e, instantes depois, decidimos “jogar taco”. O garoto ficou por perto, só olhando, mais irritado do que nunca.

Eu não sei o porquê, mas as mudanças que o Google promoveu ontem no Google Reader, um dos mais populares leitores de feeds RSS que existe, me lembrou do episódio da bola. Para quem não é usuário do serviço, eu explico: até ontem, você podia não só utilizar o Google Reader para ler seus feeds prediletos, como também para compartilhar conteúdo. Além disso, você podia comentar todo o material compartilhado por outras pessoas. Mas só até ontem.

O compartilhamento de conteúdo em redes sociais (como Facebook e Twitter) é uma prática comum, afinal, se alguém compartilha algo, é porque algo de interessante tem ali. É como um filtro de conteúdo. O Google Reader também funcionava assim e funcionava bem, dada a simplicidade do serviço.

Acontece que, entre outras alterações, o Google eliminou a funcionalidade de compartilhamento e, no lugar, colocou um botão +1. Isso significa que se você quiser compartilhar algo no Google Reader ou ler material compartilhado, vai ter que acessar a rede Google+, que a empresa criou – por mais que negue – para fazer frente ao Facebook.

Isso é chato porque condiciona o usuário a sair de um ambiente controlado e amigável para entrar em um universo amplo e confuso. Não que o Google+ seja ruim: mas é que esta rede é coisa demais para quem quer apenas acessar os feeds compartilhados pelos amigos.

O Google avisou previamente que mudaria o Google Reader. Os usuários protestaram. Depois da alteração, protestaram mais ainda. Antigos funcionários da empresa que trabalharam na ferramenta também. Só que o Google continua firme e forte em sua decisão.

A empresa tem lá os seus motivos, mas esta situação toda parece ser uma tentativa de fazer o Google+ ser mais acessado. Eu espero estar enganado quanto a isso, pois o Google tem gente bastante qualificada para saber que jogar as coisas goela abaixo não funciona. Desta maneira, os usuários do Google Reader vão seguir o exemplo da turminha da minha rua: se para usar a bola temos que fazer isso, vamos brincar de outra coisa.

Emerson Alecrim

Emerson Alecrim Autor: Emerson Alecrim
Graduado em ciência da computação, tem experiência profissional em TI e produz conteúdo sobre tecnologia desde 2001. É especializado em temas como hardware, sistema operacionais, dispositivos móveis, internet e negócios.
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